Para um bom analista, os sonhos são materiais muito importantes para um manejo que levará o analisando a excelentes elaborações.
Em 2020 fui convidado para trabalhar na Secretaria de Educação da Serra coordenando um projeto muito interessante: uma Academia de Letras Estudantil.
Apesar do convite muito desafiador eu fiquei com muito pesar de sair da sala de aula, que é o lugar onde mais gosto de estar, mas mesmo assim, aceitei dirigir o projeto.
Infelizmente, com o aparecimento da pandemia, o projeto feneceu e fiquei realizando outras atividades na Secretaria. Não me sentia feliz com o trabalho, mas continuei a exercê-lo porque não havia possibilidade nenhuma de ter interação com os alunos por causa do isolamento.
Uma noite, eu tive um sonho em que estava na cozinha fazendo comida e atrás de mim tinha uma cama com minha filha ainda bem infante e, ao lado, uma pia cheia de vasilhas. Eu ficava perdido em meio a tantas coisas para fazer: cuidar da filha por causa do fogão, cozer o alimento e lavar as vasilhas. Com medo da criança esbarrar na panela e se queimar eu a coloquei em um cantinho na pia. Logo que fiz isso, apareceu um jovem, a pegou no colo e a levou para outro lugar. Neste instante fiquei tranquilo e o sonho acabou.
Não posso negar que esse sonho me deixou intrigado. O contei para um amigo psicólogo que tem uma visão bastante psicanalítica. Ele me disse que o sonho significava que eu estava em um lugar onde não estava bem, não me sentia satisfeito nem feliz e alguém precisava me tirar daquele local, como foi representado pela saída da minha filha através de uma outra pessoa.
No momento em que ele interpretou o sonho, eu percebi que a angústia que senti quando acordei pela manhã lembrando do sonho era real porque realmente não estava feliz e satisfeito trabalhando na Secretaria, mesmo estando junto a pessoas muito competentes e extremamente simpáticas. O
sonho foi a manifestação de um desafeto que estava sentindo, de uma situação que estava vivenciando sem sentir satisfação alguma.
Nesse caso, o sonho estava me revelando um desejo de sair de um lugar que não possibilitava a satisfação que sinto quando estou em sala de aula.
Também os sonhos, quando interpretados, podem fazer com que entendamos um momento vivido e, por meio deste entendimento, encontremos a elaboração.
Márcia, minha esposa, teve um sonho que persistiu por sete anos. O sonho era sempre o mesmo: ela sonhava que perdia nossa filha mais velha e acordava em angústia por não encontrá-la.
Durante uma aula no curso que fizemos de Psicologia da família, ela conversou com o professor a respeito daquele sonho que persistia por sete anos. Com a orientação da aula e com a conversa com o professor, ela lembrou do dia em que sentiu que o bebê, na época com cinco meses de gestação, não queria mexer, deixando-nos preocupadíssimos.
Tentamos de tudo até decidirmos ir ao hospital para ver o que estava acontecendo. Felizmente era apenas preocupação de pais de primeira viagem. Todavia tal angústia tornou-se um trauma para ela, por isso o sonho repetitivo por tantos anos.
Assim que ela conseguiu estabelecer uma relação entre o sonho e o acontecimento, não demorou e ela teve o mesmo sonho, mas, agora, encontrando a garota. Depois disso, a elaboração foi realizada e nunca mais sonhou.
Perceberam como a interpretação de um sonho pode colaborar muito para que tenhamos um entendimento significativo do que se passa dentro de nós? É uma maneira de nos autoconhecer e quando isso acontece temos uma visão mais ampla das escolhas que devemos fazer e de como agir em determinadas situações.
Uma sugestão? Não deixe de relatar seus sonhos para seu analista, principalmente aqueles que te angustiam. Tenha certeza de que o relato ajudará muito nesse processo de estar no mundo sentindo-se mais equilibrado e de uma forma mais tranquila.
