Eduardo Baunilha Psicanalista

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O inconsciente

Arqueologicamente falando, um dos grandes achados freudianos e que é a pedra de toque da Psicanálise é a questão do inconsciente.

Evidentemente que não foi Freud o primeiro a pensar nesta instância psíquica. Na Alemanha, Georg Christoph Litchenberg, matemático e filósofo, relatou que por meio dos sonhos poderíamos nos autoconhecer. O próprio Freud constatou que Göethe e Schiller, em suas poéticas, transfiguravam elementos provenientes do inconsciente. O que realmente Freud fez foi sistematizar e ampliar o conceito, tornando-o base da teoria Psicanalítica.

É a palavra que dá via de acesso ao inconsciente. Por isso a técnica da Associação livre de Freud. É algo que não se pode conhecer. Todavia é por meio do inconsciente que o paciente e o analista irão expandir o domínio do consciente.

Ou seja, aquelas palavras que ora saem sem muito aviso, aqueles sonhos inquietantes, os atos falhos, os lapsos de memória que não entendemos o porquê podem ser entendidos e/ou explicados quando esse inconsciente é liberado. Ação que na maioria das vezes acontece no setting analítico, entre paciente e analista.

Evidentemente que o autoconhecimento oriundo da elaboração que a análise proporciona nem sempre será recebido com tranquilidade e será isento de angústias. Muitas situações desagradáveis, muitas falas maldosas, traumas, diversos, contextos recalcados quando revividos faz-nos sentir afetos que nos deixarão desconfortáveis. Todavia é no rememorar o fato, reviver o acontecido que a elaboração se fará e nos libertará de temores que muitas vezes nos limitam.

Quantas vezes perdemos promoções, oportunidades e deixamos de conhecer lugares e conviver com pessoas por causa do medo, de temores ou traumas que podem ser facilmente entendidos e modificados se entendermos a origem deles.

Vou contar-lhes um exemplo meu. Durante muitos anos eu sentia verdadeiro asco de me aproximar de pessoas que tinham síndrome de Down e sem entender o porquê. Quando tornei-me professor, esta situação tornou-se extremamente problemática para mim. Como não me aproximar de alunos com essa síndrome, se tínhamos dezenas na escola?

Rememorei um fato passado que elucidou o mistério do nojo. Lembrei-me que indo para a casa de uma cliente com minha mãe, enquanto ainda era muito infante, por volta dos 3 ou 4 anos, fui para o quintal da mulher enquanto ambas conversavam.

Porém, a cliente tinha uma filha com síndrome de Down que já era uma jovem. Ela me vendo no quintal, foi até a mim, me pegou no colo, me jogou para cima e saiu de baixo. A partir daí não consegui lembrar de nada, mas certamente foi uma queda que me causou um determinado trauma, pois foi recalcado e produziu uma reação de asco para que eu não pudesse mais me aproximar de pessoas assim, pois minha psiquê entendeu que estando com elas eu poderia ser vitimado novamente.

O contentamento foi que, quando rememorei a história, mesmo que incompleta, o sentimento que ora estava em mim foi dissipado. Aconteceu neste ínterim a elaboração, e nunca mais senti vontade de não estar perto de pessoas com essa síndrome. Hoje brinco, converso, abraço e ensino para essas crianças sem problema algum.

Ou seja, você passa de um estágio de limitação ou dependendo da situação e do trauma até de dor, e passa a viver uma existência mais plena, com menos amarras, com mais equilíbrio e tranquilidade.

Na próxima matéria que escreverei na semana que vem, vou ampliar o conceito de inconsciente, trazendo à baila a questão dos sonhos, pois é um canal de liberação do inconsciente muito efetivo. Até lá, um grande abraço para vocês.

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