Escrevendo a respeito da Associação livre de ideias pensada por Freud no texto anterior, postado na revista, no dia 12 de abril, logo remeti ao choro do bebê como a primeira comunicação oficial que todos nós expressamos.
Todavia, antes deste momento tão esperado na vida dos pais, muitas situações acontecem que marcam e permanecem na vida de todos, do nascimento até a vida adulta. Para entendermos melhor, convido-os a fazerem uma viagem comigo.
Durante o ato sexual cerca de 300 milhões de espermatozoides são expelidos no corpo da mulher, sendo que milhões morrem por adentrar na área vaginal que é muito ácida. Esta acidez é uma proteção natural do corpo, pois evita que microorganismos e bactérias invadam-na, causando doenças.
Também, durante o percurso, outros milhares de espermatozoides morrem por não terem forças para prosseguir e ainda outros milhões morrem por serem atacados pelas chamadas células assassinas, também responsáveis por cuidar do corpo feminino.
Porém, alguns espermatozoides driblando as células assassinas, e secretando uma enzima que existe neles, conseguem chegar até o ovário. Este, por sua vez, além de ser 85 mil vezes maior que o espermatozoide, ainda possui uma membrana protetora que também secreta uma substância que expele milhares de espermatozoides. Esta substância também atrae outros que ficam ao seu redor numa tentativa desesperada para entrar em seu interior.
A capa protetora do óvulo dificulta a entrada dos espermatozoides, mas um deles, insistindo e soltando uma enzima que ajuda a perfurar o órgão, consegue adentrar em seu núcleo. Neste momento, a cauda, responsável por facilitar sua chegada ao óvulo, é descartada. A cabeça do espermatozoide dentro do óvulo cresce 4 vezes e se abre, saindo um núcleo deste lugar. Nesse núcleo tem o DNA paterno, ou seja, todas as informações do pai, desde antes dele nascer. Isso é possível porque o que se falava e pensava deste indivíduo antes mesmo de sua concepção, já estava arquivado no corpo do pai e da mãe dele, sendo passado para o novo ser. As informações oriundas das vivências
da mãe estão presentes no óvulo. No instante do encontro, os dois se tornam um.
Agora que se uniram, espermatozoide e óvulo tornam-se o Concepto. Como é um outro elemento, e não é reconhecido pelo corpo feminino como parte dele, novamente as células assassinas entram em ação. Para vocês terem uma ideia, cerca de 75% dos conceptos são aniquilados pelas células assassinas.
O concepto em sua caminhada para o útero, vai tendo suas células multiplicadas. Passam por um caminho muito estreito e depois caem no útero. Neste momento não é mais um concepto, torna-se um blastócito que também adquiri uma capa protetora. Esta carrapaça se rompe durante a queda e algumas raízes aparecem, com a finalidade de o grudarem na parede do útero. Uma vez ali, acontece a Nidação. Estas 100 células juntas se dividem em duas. A metade torna-se o embrião e a outra metade a placenta.
É uma longa jornada até o nascimento. Uma caminhada permeada de acontecimentos que farão toda a diferença para este novo ser que virá.
Esta trilha percorrida pelo espermatozoide, depois pelo concepto e por fim pelo blastócito é toda percebida por esses seres. E o que eles percebem? A dor, a luta pela vida, a tristeza, a rejeição, o abandono, o horror, o pânico, a vontade de viver. E o que tudo isso quer dizer?
Que antes do início de tudo já éramos acometidos por todos esses sentimentos que ora vivenciamos durante toda a vida. E o que esta constatação me faz pensar? Que independente de como fomos criados, estes sentimentos estarão sempre presentes em nossas vidas.
É claro que a maneira como nossa mãe vivenciou a gravidez, o apoio que recebemos durante a vida, as experiências ambientais que tivemos farão toda a diferença na intensidade com que estes sentimentos serão transfigurados. Todavia eles estarão lá, sempre prontos a aparecer assim que forem acionados por algum contexto que as deflagarão.
Todas essas informações nos mostram que não devemos negar o que sentimos. Todos os sentimentos têm uma importância para nosso estar no mundo, pois eles nos fazem buscar saídas dentro de nós para lidarmos com variados contextos, sejam eles agradáveis ou desagradáveis.
Quando aparecerem as emoções devemos problematizá-las, para que estas possíveis soluções possam ser encontradas. Por exemplo: se estou ansioso, devo perguntar. – Por que estou ansioso? Pra quê? O que tem me feito estar ansioso?
Tais perguntas nos levarão a ponderar e a ponderação nos conduzirá a um caminho em que algumas respostas poderão ser encontradas. Encontrando-as, as ações para a melhora aflorarão e nos sentiremos melhor e, consequentemente, mais preparados para lidar com outras emoções que surgirão.